Em pouco mais de dez anos, eis-nos confrontados pela terceira vez com uma ação de “participação pública”, lançada pela Direção-Geral de Energia e Geologia, para a pesquisa e prospeção de depósitos de minerais num espaço a que chamaram “Montemor”. Trata-se de dar a uma empresa de fachada a possibilidade de estudar o que lhe possa interessar, numa zona artificialmente desenhada no mapa. Onde, para sua grande infelicidade, vivem pessoas, animais, plantas. Onde, para sua maior infelicidade, foram sendo criadas zonas de proteção: da fauna, da água, do património, da vida.

Quem se propõe fazer estes estudos não são organizações com fins científicos, nem beneméritos de algum modo preocupados com o conhecimento do que ali existe, para prevenir ou melhorar as condições que venham a encontrar. A intenção é apenas o lucro dos seus acionistas em todo o mundo. E o máximo lucro resulta de rebentar com o chão que pisamos, à força de toneladas de explosivos, durante os anos necessários para retirar o que, num dado momento, dê dinheiro – e desaparecer com o que conseguirem, deixando a destruição para os sobreviventes locais e para o país.

Hoje, isto não oferece dúvidas a ninguém. As próprias instituições e empresas ligadas à mineração o publicam na internet. Nós tivemos o privilégio de o ouvir ao vivo: “O encerramento das minas não é problema, tem financiamentos da União Europeia”, disse-nos o responsável pela última empresa de prospeção que aqui tivemos a laborar. Um Valente que virou costas assim que a cotação do ouro caiu, deixando atrás de si dívidas e nenhum conhecimento positivo para o país. Falava de outros Valentes, que viriam explodir com tudo o que hoje conhecemos e, ninguém pode ignorar, deixariam atrás de si o fim de muitas formas de vida, poluição permanente de solos e água durante séculos, agravamento da desertificação climática, compromissos financeiros públicos na monitorização e controlo dos danos.

A braços com a insistência nesta “solução” desenvolvimentista para a região de Monfurado e vizinhas, decidimos regressar, para continuar a alertar, reunir informação, contestar, desmistificando engodos de empregos fabulosos e miragens de crescimento económico regional e nacional.

O mundo está a braços com a maior crise ambiental da história da humanidade, temos o planeta em risco de sobrevivência: precisamos de atividades económicas que façam uma melhor gestão dos recursos hídricos e que baixem a pegada ecológica. Onde é que as minas a céu aberto contribuem para isso?

Este blogue pretende ser um centro de partilha de informações sobre o tipo de vida a que a concessão mineira conduz. Quanto mais estudamos, maior é a nossa incredulidade perante o apoio dos organismos do Estado a mais esta política de curtíssimo alcance.

Aos nossos leitores, pedimos colaboração. Os nossos “posts” remeterão sempre para as fontes de informação a que conseguirmos aceder. Outras haverá, provavelmente mais atualizadas e explícitas: revelem-nas, corrijam-nos, informem! É esse o grande objetivo desta iniciativa cidadã.

Monfurado, 1 de outubro de 2024